Os ambientes naturais sofrem modificações ao longo do tempo em função da forma como os seres humanos manejam a paisagem. A Agroecologia, em sua mais ampla aplicação (âmbitos social, econômico e ambiental), possui capacidade de estruturar as atividades humanas de maneira consonante à manutenção da qualidade dos ecossistemas manejados. Com uma perspectiva holística, o manejo agroecológico é capaz de unir o uso antrópico com a proteção e preservação das funções ecossistêmicas, conservando a diversidade dos processos do ecossistema em nível de paisagens. Na transição de um ecossistema natural para um agroecossistema, a elasticidade primitiva e a estabilidade biológica são substituídas pela combinação de fatores socioeconômicos e ecológicos. Isto aconteceu em larga escala no Brasil e na Zona da Mata mineira, com extensa substituição das florestas e ecossistema nativos por culturas agrícolas como o café, que atualmente em sua maior parte deu lugar às pastagens. No presente trabalho buscamos investigar como o manejo agroecológico contribui para a regeneração da multifuncionalidade ecológica da paisagem. Selecionamos como estudo de caso uma propriedade na Zona da Mata mineira, que vem sendo manejada há quinze anos a partir de uma abordagem agroecológica, visando a regeneração de pastagens degradadas e a produção agroecológica de alimentos. Foram selecionadas características para se entender as mudanças na funcionalidade ecológica ao de 15 anos, a saber: i) uso e cobertura do solo; ii) estoque de carbono orgânico nos solos e na vegetação; iii) biodiversidade e; iv) susceptibilidade dos solos à erosão. A partir de imagens aéreas e conversas com os atuais proprietários, foi reconstruído o cenário do ano de 2004. Em 2019, foi realizado um levantamento com o uso de drone e elaborado um mosaico ortoretificado da área de estudo e feito o mapeamento e caracterização do uso atual do solo. Foram coletadas amostras de solo dos principais tipos de uso e utilizados dados secundários de inventário florestal para se avaliar estoques de carbono no solo e na fitomassa aérea do estrato arbóreo. A conversão da pastagem em outros tipos de uso de maior biodiversidade e com cobertura arbóreo-arbustiva é a principal alteração da paisagem contida na propriedade. Em termos do funcionamento ecológico avaliamos os impactos deste manejo em relação a três aspectos: i) conservação do solo e da água; ii) sequestro de carbono atmosférico e; iii) aumento da biodiversidade. Quanto aos impactos da substituição das pastagens sobre as características químicas dos solos, os resultados indicam que a sucessão ecológica e maior produção de biomassa aérea aumenta a ciclagem de nutrientes, porém o teor de carbono orgânico no solo permanece próximo ao das pastagens, indicando um sistema dinâmico de transformação de matéria e utilização da energia pelos seres vivos. Os resultados mostram poucas diferenças nos teores médios de carbono orgânico nos solos das diferentes classes de uso. A regeneração natural levou ao expressivo aumento da biodiversidade vegetal devido a ocorrência de estrato arbustivo e arbóreo. Com isso, tem-se a ampliação da diversidade de nichos ecológicos para diversas espécies da fauna. A maior produção de biomassa e sua deposição e decomposição nos solos e a presença de sistemas radiculares mais profundos também indicam o provável aumento da diversidade de microfauna do solo. A presença de estratos arbustivos e arbóreos nas encostas e a implantação de técnicas de “Plantio de Água” contribuem para a redução da estimativa do potencial de erosão do solo. Enquanto uma pesquisa exploratória, os resultados evidenciam que após 15 anos de manejo agroecológico tem-se uma paisagem atual com maior multifuncionalidade ecológica. Incentivo à disseminação deste tipo de manejo de forma mais ampla pode ter efeitos significativos em escala local e regional, contribuindo para a regeneração ecológica de um território mais extenso. Palavras-chave: Biodiversidade. Autorregulação. Paisagens funcionais.
Natural environments undergo changes over time as a result of the way humans manage the landscape. Agroecology, in its widest application (social, economic and environmental spheres), has the capacity to structure human activities in line with the maintenance of the quality of managed ecosystems. With a holistic perspective, agroecological management is able to unite anthropogenic use with the protection and preservation of ecosystem functions, conserving the diversity of ecosystem processes at the landscape level. In the transition from a natural ecosystem to an agroecosystem, primitive elasticity and biological stability are replaced by a combination of socioeconomic and ecological factors. This has happened on a large scale in Brazil and in the Zona da Mata of Minas Gerais, with extensive replacement of native forests and ecosystems by agricultural crops such as coffee, which has mostly gave way to pastures. In the present work, we seek to investigate how agroecological management contributes to the regeneration of the ecological multifunctionality of the landscape. We selected as a case study a property in the Zona da Mata of Minas Gerais, which has been managed for fifteen years from an agroecological approach, aiming at the regeneration of degraded pastures and the agroecological production of food. Some characteristics were selected to understand the changes in ecological functionality over 15 years, namely: i) land use and cover; ii) organic carbon stock in soils and vegetation; iii) biodiversity and; iv) susceptibility of soils to erosion. Based on remote sensing of old images and conversations with the current owners, the 2004 scenario was reconstructed. In 2019, a survey was carried out using a drone and an orthorectified mosaic of the study area was prepared and the mapping was carried out to demonstrate the characterization of current land use. Soil samples were collected from the main types of land use and secondary forest inventory data were used to assess carbon stocks in the soil and aerial phytomass of the tree stratum. The conversion of pasture to other types of use with greater biodiversity and with arboreal-shrubby cover is the main alteration to the landscape contained in the property. In terms of ecological functioning, we evaluated the impacts of this management in relation to three aspects: i) soil and water conservation; ii) atmospheric carbon sequestration and; iii) increase in biodiversity. As for the impacts of replacement of pastures on the chemical characteristics of soils, the results indicate that ecological succession and greater production of aboveground biomass increases nutrient cycling, but the organic carbon content in the soil remains close to that of pastures, indicating a system dynamics of matter transformation and energy use by living beings The results show few differences in the average levels of organic carbon in soils of different use classes. Natural regeneration led to a significant increase in plant biodiversity due to the occurrence of shrub and arboreal strata. As a result, there has been an expansion of the diversity of ecological niches for different species of fauna. The greater production of biomass and its deposition and decomposition in soils and the presence of deeper root systems also indicate the likely increase in soil microfauna diversity. The presence of shrub and arboreal strata on the slopes and the implementation of “Water Planting” techniques contribute to reducing the estimate of the potential for soil erosion. As an exploratory research, the results show that after 15 years of agroecological management there is a current landscape with greater ecological multifunctionality. Encouraging the dissemination of this type of management in a broader way can have significant effects on a local and regional scale, contributing to the ecological regeneration of a larger territory. Keywords: Biodiversity. Autoregulation. Functional Landscape.
