Resumo:
Neste estudo, refletimos sobre uma prática social entre mulheres de São Gabriel - BA, a qual na linguagem nativa é denominada freguesia , sendo diretamente vinculada ao ciclo da reprodução biológica. Uma dinâmica em que a solidariedade e a reciprocidade das relações estabelecem uma coesão grupal e um sentimento de pertença. Problematizar a freguesia nos propiciou entender que parte do estabelecimento de vínculos sociais dessas mulheres ancora- se no peso simbólico do resguardo. Recorremos à discussão de gênero, como perspectiva teórico-interpretativa e à tradição sócio-antropológica, junto às reflexões sobre a dádiva, por entender que essa rede é consolidada a partir de trocas, tanto materiais quanto simbólicas. A discussão sobre classe social justifica-se por ser uma prática pertinente às trabalhadoras rurais, que vivem no semi-árido baiano. Agentes que, para garantir a reprodução social do grupo, produzem diversas e distintas estratégias de convivência, contando com difíceis condições materiais para a produção e reprodução social. A pesquisa demonstra que a prática da freguesia mantém-se no tempo e no espaço ainda que com transformações, como, por exemplo, a redução de jovens predispostas a entrar no âmbito das trocas locais. Ressalta-se o fato de que a dinâmica das famílias que a praticam, bem como suas condições sócio-econômicas, sofreu grandes alterações no decorrer das últimas décadas, sem, no entanto, transgredir os significados da freguesia. O estudo dessa prática ampliou as possibilidades de entender como determinadas mulheres vivenciam coletivamente as responsabilidades relativas à maternidade. O habitus da freguesia e o sentimento comum dessas mulheres têm conseguido manter a união do grupo, sendo que as consequentes trocas fogem a interesses contratuais e a obrigações legais.