Resumen:
“No mundo, metade da humanidade tem fome e a outra metade tem medo dos que tem fome”. A frase de Josué de Castro tem grande atualidade pois, ainda que tenha se alterado a geografia da fome, a insegurança alimentar permanece como um dos principais problemas da sociedade contemporânea e é uma das faces da crescente desigualdade social. Essa reflexão, associada à crítica a um modelo de desenvolvimento baseado no lucro imediato e que esgota os recursos naturais, está na base do debate contemporâneo sobre Agroecologia, um dos fundamentos para um desenvolvimento efetivamente sustentável. Tema presente no debate institucional há mais de uma década, a Agroecologia mereceu atenção especial do VIII Congresso Interno da Fundação Oswaldo Cruz, realizado em 2017, que a definiu como um dos temas prioritários ao se estabelecerem diretrizes para a Saúde, Ambiente e Sustentabilidade e para a atuação organizada em torno da Agenda 2030. Para tanto, vem se fortalecendo a perspectiva do trabalho em rede, com forte participação de movimentos sociais, em torno de programas amplos, a exemplo do que se refere a Territórios Saudáveis e Sustentáveis. Por essas razões, vejo com grande satisfação a publicação do Dicionário de Agroecologia e Educação pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV-Fiocruz), uma obra de produção coordenada com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e em parceira com a Editora Expressão Popular. A relação entre conhecimento e prática presente na perspectiva da Agroecologia só pode se realizar plenamente a partir da Educação e é este o principal objetivo da presente obra. Ao reunir nessa edição 106 verbetes, elaborados por 169 autores de diversas instituições – universidades públicas, institutos federais de educação, movimentos sociais, institutos de pesquisa – e com representação de autores da Argentina, Guatemala e México, ao lado de pesquisadores e educadores brasileiros, o Dicionário de Agroecologia e Educação contribui para o conhecimento sobre a multiplicidade de experiências nacionais e locais que dão vida ao conceito de Agroecologia. Resultado de um esforço coordenado, não se trata de uma simples reunião de temas, mas de um projeto integrado baseado em amplo diálogo que envolveu a produção coletiva da obra. O próprio processo de sua construção foi orientado pela perspectiva de se construir conjuntamente uma Pedagogia da Agroecologia. A presidência da Fiocruz agradece à Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, e a todos os parceiros envolvidos, pela organização desse importante trabalho para a divulgação de saberes e o fortalecimento da ação política necessária à construção de um novo modelo de desenvolvimento.